19.4.09

depósito de aluvião

mexo-me sem ossos, cidade líquida
a corda das nuvens amarra o céu
um gato a olhar para a lareira
sou forçado a ter que falar

carapaça de quitina, é um insecto
paisagem lunar submarina
nesta lâmina lê-se o futuro
uma pessoa completamente labirintos
as flores mortas sobre a mesa
e os pés enterrados no chão

o azimute de não estar aqui
linhas difusas no nevoeiro
as paredes a sussurrarem-me
o corpo sangrado de electricidade
um ar condicionado ao longe
uma pessoa que não nasceu

vivo dentro de um funil
musgo-me nas árvores,
bidões nos baldios, trilhos,
um deus a devorar uma criança
e as pepitas da anarquia a luzirem

7 comentários:

Anónimo disse...

muito bom, como sempre


marie curie

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Credo!!!
Sempre a causar sensações...
Um bocado forte.
Muito bom mesmo.


Beijo
Van

Anónimo disse...

bem, já sabes... é(s) realmente muito bom!

Beijinhos, miudo giro.

Conchinha

Anónimo disse...

Dentro do funil, o poeta espera o dilúvio. Algo virá para limpar o musgo, o podre, as crostas.

Novamente uma estrutura difusa, de haikus sucessivos em intersecção. Gosto bastante do teu estilo. Hei-de publicar-te!

um abraço

Márcia Maia disse...

um poema e tanto!
fazia séculos que não vinha aqui. aliás, que não ia a lugar algum na net.
foi bom voltar.

um beijo daqui.

RF disse...

A vida num funil é uma imagem que dá que pensar...